Hoje vou escrever sobre música na alma, no sorriso, na simplicidade e em todos os lugares da vida. Jair Oliveira é isso e muito mais!

Teoricamente, conheço o Jair desde sempre. Ele é um mês e um dia mais velho que eu, nossas famílias se trombam na música desde muito antes de nascermos. Porém a verdade é que nos conhecemos realmente em 1996, durante a gravação dos álbuns de nossos irmãos João Marcello Bôscoli e Luciana Mello, cada um em seu respectivo álbum. Jair produzia a Luciana e eu participava como artista convidado do disco do João.

Jair nasceu dia 17 de Março de 1975, exatamente no dia do aniversário de minha mãe! Coincidência? Não consigo acreditar nisso. 

Filho de Jair Rodrigues e Claudine Mello, irmão de Luciana Mello, a música esteve a todo instante presente de forma implacável, criando uma conexão de forma completa exercendo uma acensão em sua personalidade tão forte e intensa, como uma religião.

São mais de 30 anos de carreira. Desde muito criança já estava trabalhando com seu pai e logo entraria para o grupo infantil “Balão Mágico”, onde eu tive o primeiro contato com a sua musicalidade. Não só eu, mas quase toda a minha geração, dado o sucesso enorme que o grupo teve por anos. Não vou me ater a esse momento de sua carreira, quero abordar o momento em que fomos mutuamente apresentados pelo cantor e produtor Wilson Simoninha, durante aquela gravação em 1996. O Santo bateu de uma forma muito natural, até porque eu desafio qualquer ser humano da terra a não gostar do Jair.

Jair vivia nos Estados Unidos, estudando na Berklee School of Music, cursando produção musical e por conta disso os encontros eram poucos, durante suas férias aqui o Brasil. Logo marcamos um futebol em sua casa na região da Granja Viana, em São Paulo. Do futebol à música foi um pulo e logo ao final de um dos jogos, conversamos sobre música e composição e o Jair já me apresentou uma fita cassete com algumas de suas gravações. Eu estava em fase de seleção de repertório e Jair se prontificou imediatamente a me municiar com suas canções. Daquela leva, não aproveitei nada, mas era muito claro que não demoraria muito a encontrar a canção certa.

Não demorou muito, os encontros futebolísticos serviram de pretexto para Jam Sessions na varanda da casa do Jairzão. Num desses dias, levei minha bateria no carro e, enquanto o pessoal se hidratava no pós-jogo, montei a bateria e comecei a ensaiar uma batida, bem simples, num andamento preguiçoso. O Jair apareceu com seu violão e me pediu para seguir naquele beat, porque queria me mostrar uma música. Mal sabia eu que esse momento mudaria minha carreira pra sempre. Ele começou a cantar “Voz No Ouvido” e eu fiquei louco com a música. Perguntei se ele já havia mostrado a alguém, e quando ouvi sua negativa, seguida de sua generosidade ao dar a canção pra mim, foi uma alegria sem tamanho.

Dois anos depois eu lançava essa canção, que deu título ou meu segundo álbum e viria a ser meu maior sucesso, responsável pelo meu primeiro disco de ouro, além de uma indicação ao Grammy Latino. Neste mesmo álbum, outras 4 canções do Jair surgiam e, desde então, não há um só projeto em que eu não sente com ele para buscarmos as próximas canções.

Jair compões como respira. Algo tão natural e fluido, que não me canso de admirar. Suas letras e melodias nascem quase ao mesmo tempo, cercadas de humor, romance, sabedoria e empoderamento. Tudo muito claro desde seu primeiro álbum “Disritmia” de 2001, que eu adoro! Misturando Jazz, Hip-hop, Samba e muito mais. Esse disco funciona muito bem como um cartão de visitas para quem quiser ter um resumo de tudo que Jair é como compositor, produtor e intérprete. “Falta Dizer” e “Papo de Psicólogo” são minhas favoritas, sendo que esta última eu gravei no disco “Piano e Voz” em 2004. 

Em 2002 ele lança “Outro”, mais um discão! Quase que como uma continuação do primeiro álbum, porém com maior maturidade em todos os aspectos da produção. A faixa “Bom Dia, Anjo” virou hit e é cantada a plenos pulmões em todos os seus shows. Eu também gosto muito de “Falso Amor”.

No ano seguinte “3.1” chega com novas propostas, mas nunca abrindo mão de sua principal virtude: melodia e letra, uma dupla que Jair trata com um respeito sem tamanho. Minhas prediletas: “Coisas Fáceis” e “Eterno Amor de Um Dia Só”. O álbum “3.2”, lançado no ano seguinte, foi o primeiro projeto totalmente virtual de sua carreira.  Foi lançado exclusivamente pela internet e foi o último trabalho em parceria com a gravadora Trama.

No ano de 2006 Jair lança “Simples”, para mim um álbum divisor de águas na sua obra. Uma maturidade nas letras, firmeza nas composições, colocando algumas ao alcance do grande público, como “Tiro Onda – Pra Onda Não Me Tirar” que chega a ser trilha de novela. A faixa título, que de tão simples, minimalista e de letra tão mágica, chega a ser gigante! “Intacto” e “Casa da Dor” são sofisticadas musicalmente e densas em suas auto-análises. Vale a audição cuidadosa. 

No começo de 2008 foi lançado seu primeiro DVD, “Simples ao Vivo”, gravado no palco do Citibank Hall em São Paulo. O repertório é composto por canções do álbum homônimo e também por outros sucessos d e Jair.

Durante 2009 e 2010, Jair se embrenhou em dois projetos que trariam novos horizontes na sua carreira. Já com duas lindas filhas e enfrentando aquela rotina de ajudar nos cuidados com as pequenas, de violão em punho, começava a cantar letras inventadas para apaziguar os ânimos em casa. Fosse na hora de comer, na hora do banho, no passeio, etc. Daí surge em parceria com sua esposa Tania Khalil o projeto “Os Grandes Pequeninos”. Com participações de vários artistas pais de primeira viagem, Jair cria um universo incrível que mais tarde se expande para os palcos, com espetáculos que rodaram o Brasil todo, além de uma série de vídeos disponibilizados em plataformas digitais. Este projeto foi indicado ao Grammy Latino 2009 na categoria Melhor Álbum Infantil e também se transformou em musical de teatro no início de 2010.

Paralelamente confecciona um novo álbum/livro, “Sambazz”. O livro mostra as etapas de criação do CD homônimo. Traz o álbum encartado, possui fotos, partituras e registra o processo de produção, da composição à mixagem, apresentando o universo da música e a carpintaria da produção de um disco. Um projeto corajoso e cuidadoso.

Em 2011, aos 36 de idade e comemorando a marca de 30 anos de carreira, Jair realizou um show, no Auditório Ibirapuera em São Paulo. O espetáculo – uma releitura de sua trajetória – contou com participações especiais de artistas que o acompanharam em diversos momentos de sua carreira: Jair Rodrigues, Simony, Luciana Mello, Wilson Simoninha, Max de Castro, Daniel Carlomagno, sua esposa Tania Khalill e sua primogênita, Isabela. Tive a honra de participar desse momento incrível!

Há uns 2 anos, buscando novos horizontes, oportunidades e a chance de proporcionar para suas filhas uma experiência sem igual, Jair se muda para Nova Iorque, onde começa a produzir um novo álbum, com muitas colaborações e em 2019 “Selfie” chega ao mundo.

O álbum, na minha modesta opinião, traz um Jair leve e sem apego a conceitos, fazendo a música pela música e a ela entregando tudo o que ela precisa. Uma sensação deliciosa ao ouvir todo o material. Jair dá um salto em direção a tudo aquilo que ele sempre cultuou, a verdade impressa na obra. Todas as colaborações de grandes músicos da cena do Jazz mundial são precisas, e as composições repletas de verdade! Não à toa foi brindado com uma indicação ao Grammy Latino na categoria Melhor Álbum Pop Contemporâneo em língua portuguesa. Demais!

Posso ser muito suspeito ao falar de Jair Oliveira, somos irmãos de alma e admiradores mútuos, porém não me eximiria de, sempre que possível, exaltar um compositor, um artista, que vive a música em sua plenitude, como uma religião, buscando agregar valor a todos que ouvem sua obra. 

Como intérprete e fã, só tenho a agradecer!

Música na alma, Jaco!