Nos anos 1980 e 1990, quando fui modelo, o tipo físico de uma profissional que “vendia” moda era obrigatoriamente alto e esguio. Eu percebi que estava nesta categoria de corpo quando completei 15 anos de idade em Porto Alegre (RS) e rapidamente comecei a fazer desfiles de passarela. O ideal era pesar 20 “números” a menos do que a altura (no meu caso, com uma medida de 1.78 m, eu deveria pesar em torno de 58 kg). Bingo, a minha constituição era assim, ufa! 

Logo chegaram os convites para vir até São Paulo fotografar editoriais de moda para as grandes revistas brasileiras e, na sequência, as campanhas de moda e beleza se tornaram um salto para mercados internacionais. Mas com o passar do tempo, o corpo da garota magrela deu espaço ao corpo da mulher feita, e as medidas naturalmente exíguas da adolescente se tornaram um desafio a manter. Desafio que eu consegui transpor relativamente bem, pois descobri a corrida aos 20 anos de idade. Ou seja, comecei a praticar este exercício aeróbico sempre, e a necessidade de estar magrinha em qualquer lugar do mundo onde em modelava, me fazia correr em, bem… qualquer lugar do mundo, literalmente! No sol intenso do verão de Paris, na chuva em Tóquio, na neve de Nova Iorque. E deu certo. Minha carreira foi bem-sucedida e durou mais de 15 anos, apesar de eu dificilmente ter seguido uma dieta. 

Tive algumas desilusões, claro… Em um lançamento da grife Dior, vi nos olhos da simpática modelista da equipe de seleção a sua tristeza quando mediu o meu quadril e verificou que eu tinha mais de 90 cm, que era a medida máxima para desfilar a coleção. Nunca vou esquecer a frase que coroou a minha frustrada tentativa: ” je suis désolé”, disse ela… Eu é quem saí bastante desolada por não ter sido escolhida para desfilar as criações de Christian Dior por conta de alguns centímetros a mais!

Pois bem, passadas duas décadas e meia daquela “pressão da fita métrica”, me deparo com a grata surpresa de ter, dentro da minha casa, uma modelete contemporânea: a minha filha Sophia, de 21 anos, que foge dos padrões datados e ditatoriais da minha época. A Soph não é longilínea: tem 1.65 e nem sabe quanto pesa. Nada disso importa para ela, e nem para as marcas conscientes e democráticas para as quais ela fotografa. Marcas autorais, que tem em seu DNA a inclusão; que intencionam representar mais do que um único perfil. A minha menina, que considero linda, caiu pronta neste processo bem-vindo da diversidade, que atualmente começa a abarcar todos os tipos físicos, de idade e gênero, e é um verdadeiro alento para a variedade de corpos e de gente que existe por aí. Afinal, o mundo inteiro quer vestir moda. E se sentir representado é o primeiro passo para um consumo feliz. 

“Ah, mas Laura, você está negando as suas origens”? rsrs  De jeito nenhum. Continuo alta e magra, correndo por aí. E feliz que outras pessoas não precisem seguir esta fórmula para se sentirem bem nos seus looks diários!