70 ANOS DA TV NO BRASIL

Boa parte do que virou moda no nosso país, veio da televisão ao longo das últimas 7 décadas

São muitas as referências que a moda brasileira utiliza para a sua produção: os lançamentos internacionais, o olhar para o espaço urbano, o meio-ambiente, a arte. Mas uma inspiração que sempre lançou moda imediata neste país foram as novelas. Figurinistas talentosos e entendedores das características específicas dos personagens apresentam um trabalho minucioso de imersão e inovação, com propostas que, na maior parte das vezes, ganham o público consumidor infinitamente mais rápido do que os estilistas renomados que analisam com afinco ideias projetadas por conceituados “bureau” de estilo – os escritórios de tendências e consultoria que tem como objeto de estudo a evolução comportamental e o desejo humano, as inclinações da sociedade e as novas linhas de pensamento da indústria fashion.

É só aparecer a nossa atriz favorita na telinha usando um look diferente e criativo, que  esquecemos rapidinho o resultado das pesquisas de moda fundamentadas em conceitos futuros. E lá vamos nós copiar a musa.

Há, é claro, uma grande diferença entre criar roupas e criar maneiras de vesti-las. A modelagem extravagante de uma peça pode alçá-la ao sucesso, assim como um novo tom de cor no mercado. Mas são justamente aqueles looks do cotidiano, pensados como identidade de um protagonista, que frequentemente vemos tomar conta das ruas – apesar da intenção primeira do vestuário das novelas de marcar de maneira consistente a trajetória daquele personagem específico. 

E não é isso que também procuramos? Um estilo próprio, que nos defina? Mesmo que seja por temporadas, a mãozinha de um veículo como a TV pode ajudar bastante, abrindo novas perspectivas e caminhos para o nosso vestir: trazendo um olhar mais atrevido ou cândido; sexy ou clássico, descolado ou brega – dependendo do artista e seu biotipo. A TV e suas novelas são praticamente um curso de moda prática, fácil de assimilar de dentro das nossas casas e com closes de câmera que ajudam na composição. Levando sempre em consideração a verdade universal de que a moda é, acima de tudo, a expressão dos nossos hábitos e comportamento em um período histórico.

Quem não se inspirou nas diversas Helenas, do teledramaturgo Manoel Carlos? Na Bibi (Juliana Paes), de A Força do Querer; em Atena (Giovanna Antonelli), de A Regra do Jogo; em Carminha (Adriana Esteves), de Avenida Brasil? E ainda, numa das primeiras divas-fashion, copiada à exaustão nos anos 70: Júlia Matos, protagonista de Sônia Braga, em Dancing Days. Mocinhas ou vilãs, elas ditaram moda neste país. 

Certamente muito bem assessorados pela visão estratégica dos profissionais do figurino de novelas e agora, mais do que nunca, das séries, os 70 anos da TV brasileira nos dão a certeza de que a telinha nos guiou e conduziu muito mais do que as passarelas!