O longo isolamento social neste ano nos trouxe questionamentos sobre a moda futura: será que este mercado vai mudar radicalmente, aclamando moletons e seus derivados como os itens essenciais do novo vestir ou, assim que possível, todos nós iremos mergulhar em peças autorais e de design sofisticado, na intenção de fugir do lugar-comum e dos dias de segregação? 

Foi esperando estas respostas atuais que resolvi me aprofundar um pouco mais num território, digamos assim, neutro: o do vestuário de época. A moda do passado interessa enormemente por trazer consigo não só hábitos culturais, mas também os tecidos, fibras, materiais e estilos que foram sendo usados com o passar dos tempos. E ao estudar fatos da trajetória humana, me peguei imaginando cenas muito prosaicas e curiosíssimas! Por exemplo: como as egípcias antigas cozinhavam, usando saias feitas de linho ( planta presente desde sempre nas margens do Rio Nilo); ou como as gregas, há 3 mil anos, frequentavam oráculos divinos, caminhando quilômetros com suas túnicas longas; e ainda, como a civilização romana se desenvolveu ao longo da Europa e norte da África por meio das conquistas dos seus generais e centuriões ricamente protegidos com couro, mantos de lã tingidos de vermelho e capacetes enfeitados com crina de cavalos…

A reflexão a que cheguei é de que praticamente não mudamos o nosso jeito de vestir… É claro que as saias encurtaram, o terno foi criado e o jeans surgiu arrebatando o século XX. Mas até esta versão “transgressora” de calça utiliza uma das plantas-base da Antiguidade: o algodão. E atualmente há os tecidos tecnológicos, que simplificaram a lavagem e nos propuseram um look moderninho. Mas vamos combinar que continuam a ser as fibras naturais o que mais gostamos de vestir?  Afinal, além de panos lindos, eles tem caimento e deixam o corpo respirar. Ou seja, a seda, o linho, a lã e o algodão são tão presentes hoje no nosso vestuário como eram há alguns milênios…

E, além disso, quem não gosta do tom vermelho do Império Romano? Dos vestidos de um ombro só das mulheres da civilização grega? Ou ainda das saias plissadas – as “kalasiris” – das egípcias?

A única coisa que decididamente não usamos mais é o capacete com crina de cavalo. Ou melhor: usamos sim! De vez em quando surge uma festa à fantasia e brincamos de soldado romano! Que voltem logo nossos encontros sociais!