Olá a todos! Quanto tempo!

Muitos projetos vêm tomando minha agenda e, por isso, não tenho estado com vocês de forma constante, mas prometi a mim mesmo que farei o possível para escrever nas horas vagas, para fomentar, não só esse espaço muito legal, como meu desejo de estar perto de vocês e de escrever sobre música.

Desde Março tenho feito juntamente com o Jair Oliveira e o Daniel Carlomagno um programa ao vivo na internet, o NOISE NA LIVE. Nascido da idéia de levar às pessoas um clima descontraído e divertido, permeado por curiosidades dos bastidores da música e de nossas vidas, nós três recebemos convidados de várias áreas, todas as terças-feiras às 20:00hrs, para um bate-papo. Acontece de tudo: papo, risadas, vídeos retirados da internet, notícias absolutamente sem nenhum sentido e até música! Uma experiência incrível que ganha corpo a cada semana e que deve crescer bastante a partir de 2018.

Paralelamente ao “NOISE”, iniciei mais uma turnê com Orquestra. “Pedro Mariano & Orquestra – Turnê DNA”. Uma nova proposta para um projeto que lancei há 3 anos, com um repertório mais contemporâneo, com mais músicas inéditas e uma sonoridade nova. Eu estava começando a produzir um novo disco em estúdio, com um repertório todo novo, quando nosso novo projeto orquestral foi contemplado com o patrocínio do Bradesco. Acabei colocando o disco “de estúdio” na gaveta, peguei algumas canções que lá estavam e parti para cima do “Orquestra”. Passamos todo o segundo semestre de 2017 viajando e lapidando este projeto para culminar com a gravação do último show, dia 20 de Janeiro de 2018, em São Paulo, que deve ser lançado até a metade do próximo ano.

Escolhi o nome “DNA” para essa turnê por motivos bem menos óbvios que possam transparecer, porque acredito que muitas escolhas tomadas ao longo de nossas vidas, sejam norteadas pelo nosso código genético. A forma como encaramos nossos problemas e desafios, como nos relacionamos com nossa família e como desfrutamos de nossas conquistas, tem como semente o nosso DNA.

Porém acredito que, ao contrário de nossas características físicas, essa personalidade possa ser “alterada”, naquilo que eu gosto de chamar de “quebra da corrente”. Quantas vezes nos pegamos presos em situações semelhantes a que nossos pais viveram e que, se não nos policiarmos, corremos o risco de entrarmos no mesmo barco? Pois é sobre tudo isso que a maioria das canções deste novo projeto fala. O que me deixou mais curioso durante todo o processo foi o fato de essas canções terem vindo de diferentes compositores, sem que eu os indicasse o caminho. Aliás, eu não pensava sobre o assunto até ter 4 ou 5 músicas orbitando sobre o tema, de forma absolutamente despropositada. Como não acredito em destino, caí de cabeça nesse tema, que a mim é tão instigante.

Ao longo deste ano, por conta de todas essas ações em que estive envolvido, muitas demandas surgiram, muitas oportunidades também. Uma delas foi gravar vídeos em Realidade Virtual (ou 360º, como alguns também chamam). Fomos para o estúdio com toda a banda e nos posicionamos como no palco, 3 câmeras VR (virtual reality) e executamos algumas canções para que o espectador, usando os óculos VR possam ter a experiência de ver uma apresentação, como se estivesse dentro do estúdio conosco. Para quem não tem os ósculos VR, algumas plataformas, como o Facebook e o Youtube, permitem que você assista aos vídeos pelo computador e “navegue” virtualmente através do mouse. Você pode ver pelo seu smartphone também. Tenho certeza que essa é uma tecnologia que veio para ficar e será, em pouco temo, uma grande aliada dos profissionais do entretenimento. Estamos correndo para tentar disponibilizar estes vídeos ainda este ano. Tomara!

Outra iniciativa que tive em 2017, foi gravar canções “isoladas” de qualquer projeto, o que chamamos de SINGLE. Tenho uma ótima e frutífera relação com a Radio Nova Brasil FM, de São Paulo, que é a rádio que toca 100% de música brasileira. Durante este ano conversamos várias vezes sobre revisitar canções que careciam de novas versões, com o intuito de apresentá-las às novas gerações, o que acredito ser muito importante para nossa memória cultural. Algumas encomendas me foram feitas e regravamos, por exemplo, “Na Paz Do Teu Sorriso” de Roberto Carlos e Erasmo Carlos. Sugeri que regravássemos “Êxtase” do Guilherme Arantes, que ficou tão especial que acabou entrando no Set do Orquestra e na sessão de vídeos VR.

Conversando com meu irmão João Marcello, ele me disse que tinha um projeto de relançar o disco “ELIS” de 1972 em 2018. Já havia entrado em contato com a gravadora Universal, que sinalizara positivamente. O diferencial deste relançamento ficaria por conta de que o disco seria totalmente remixado e remasterizado, o que agregaria um valor enorme, principalmente junto aos fãs de Elis, que teriam um disco tecnológica e sonoramente atualizado, sem mexer em nenhum quesito artístico original da obra. Seria algo como uma restauração. Eu achei o máximo, e essa idéia estava indo de encontro a algo que vivíamos comentando: precisamos criar fatos novos para a Elis, sempre.

Apesar da força da Elis ser algo que transcende minha compreensão, de sua memória continuar extremamente forte, quando outros artistas contemporâneos a ela e até mesmo de épocas seguintes à dela, já terem perdido essa força, pensamos que sua obra sendo finita, precisamos estar sempre polindo os cristais, para que não fiquem opacos com o tempo. Dentro disso tivemos a peça “Elis – a musical” dirigida por Dennis Carvalho, o livro “Nada Será Como Antes” do Júlio Maria e recentemente o filme “Elis” do Hugo Prata. Em 2018 teremos uma série na TV a cabo e o lançamento do disco “Elis” de 1972, por enquanto.

Esse disco é bem interessante, porque antes de tudo, foi o primeiro disco que ela trabalhou com Cesar Camargo Mariano, meu pai, como músico e arranjador. Tem no seu repertório “Bala Com Bala”, primeira canção escolhida por ela da dupla João Bosco e Aldir Blanc, “20 Anos Blues” de Ivan Lins e Victor Martins, “Nada Será Como Antes” de Milton Nascimento e Lô Borges, “Atrás da Porta” de Chico Buarque e Francis Hime, que tem uma história incrível documentada no livro do Julio Maria, “Águas de Março” de Tom Jobim, este o primeiro arranjo feito para Elis. Enfim, um disco e tanto!

Eu só vim a fazer parte da vida da Elis três anos mais tarde, porém uma história com uma das canções deste disco sempre me foi contada e vou compartilhar com vocês: no ano de 1975, quando nasci, uma série de reportagens davam conta do aumento veloz das taxas de poluição em São Paulo e sua associação com uma série de doenças em crianças e bebês recém-nascidos. Dona Elis, preocupada com tudo isso decidiu que eu não cresceria na selva de pedra e, numa tarde saiu à procura de um lugar no meio do mato para morar. Esse lugar era a Serra da Cantareira, em Santana, São Paulo. Chegando lá, não voltou mais. Alugou uma casa temporária, saiu decidida a encontrar um terreno para lá construir sua “Casa No Campo”. A canção “Casa No Campo”, quando eu era criança, não entrava na minha playlist da Elis; eu tinha outras predileções. Quando eu soube dessa história, contada pelo meu irmão João, tudo mudou e passou a ter um peso pessoal e especial na minha vida.

Quando eu e João conversávamos sobre o relançamento do disco, ele me provocou: “Por que não fazemos uma versão de “Casa No Campo” com você cantando com ela?”. Eu não entendi nada! Nunca esteve entre as minhas prioridades fazer um dueto com ela. Talvez por achar um lugar comum, talvez porque cantar com mulheres seja sempre muito mais difícil para o cantor, ainda mais com ESSA mulher! O fato é que resisti num primeiro momento, mas quando ele disse que tinha o disco na íntegra, com todos os instrumentos separados, com a voz dela isolada, fiquei maluco! Pedi que me mandasse uma versão sem a voz dela e outra somente a voz, eu queria estudar uma forma de interagir com ela e tinha nesse material a chance perfeita. Quando o material chegou e abri tudo no meu computador tudo ficou mais claro. Eu tinha a chance de visitar a “Casa No Campo” com ela, transitar por entre seus livros e discos, seus amigos… foi uma viagem inesquecível. Liguei para meu irmão e disse que aceitava o desafio.

Gravamos e mixamos em uma tarde de muita chuva em São Paulo neste mês de Dezembro. O grande desafio técnico foi criar para a minha participação a mesma atmosfera de 1972. Selecionamos alguns microfones da época, depois emulamos o mesmo efeito na voz, como eco e ambiência, depois equilibramos o volume, para que parecesse que eu e ela conversávamos. Foi muito especial, tanto a parte técnica como a emocional. Não me arrependo de não ter feito antes, porque creio que eu precisava estar maduro pra tudo isso, como cantor e como homem. A leitura que faço hoje de tudo isso é muito mais serena. Com minha carreira estabilizada e consolidada, não tenho mais dúvidas nem respostas a serem expostas, deixando tudo bem mais leve, como deve ser. Uma homenagem pura e simples.

Essa versão não fará parte do disco dela, será um Single a ser lançado ainda em 2017.
Desejo a todos Boas Festas e que 2018 seja repleto de realizações e de muita paz. Que possamos nos encontrar mais vezes por aqui ou em qualquer outro canal.

Um grande abraço

Pedro Mariano